quarta-feira, 12 de junho de 2013

A metodologia do acolhimento: uma reflexão

Numa sociedade onde a desconfiança parece imperar, no mais precioso da humanidade, o eu, fica difícil falar do acolhimento. Todavia, quem ousa essa consideração, agasalha em sua personalidade, caráter e maneira de ser, o que de mais belo a pessoa tem. Grandes personalidades por terem esse carisma conquistaram uma metodologia de vida que os fizeram conhecidos no mundo inteiro. Jesus de Nazaré foi um deles. Seus gestos e atitudes o fizeram grande pedagogo nesta arte. Nas mais variadas situações, acontecimentos e parábolas sempre o acolhimento era o seu forte. Por isso, multidões O seguiam (Mc 3,7-12). Quem não é acolhedor corre o risco de se tornar uma pessoa amarga. Acolher nada mais é do que torna o outro mais perto de mim. Sinto que ele (a) tem sentimentos, coração e, seja qual for sua situação de vida, nada o (a) pode danificar na dignidade humana. Como seria bom definir a palavra acolhimento com gestos concretos, visíveis e reais. Parece que este indicativo se reduz aos profissionais como sacerdotes, psicólogos, psiquiatras, médicos e outros que se disponibilizam, para acolher alguém, quando este sente algo que merece atenções especiais. No dizer de Jules Renard: “hoje, não se sabe falar porque já não se sabe ouvir”. Ousando outras palavras o acolhimento está deficitário, falho. Quem acolhe com o coração, alma e mente está colaborando com o maior aprendizado de todos os tempos. Quantas vidas não foram salvas, corações curados e mentes saradas por causa de um gesto acolhedor.

O acolhimento é tão importante que até o torna medicinal. Um desabafo, por exemplo, pode fazer tão bem quanto o valor, ou mais, de uma caixa de remédios. Quantas pessoas se trancam, no mais escuro do seu ser, por não terem quem as acolha. Atesta-nos André Gide: “Nada lisonjeia mais as pessoas do que o interesse que se presta ou se parece prestar àquilo que dizem”. Quem acolhe exerce um dos maiores atos de caridade e enobrece o amor. Acolher lubrifica a palavra de quem diz e engrandece o coração de quem escuta. A pessoa não quer grandes coisas, só quer ser acolhida. O Eu não é um pedaço de indivíduo ou a soma dos meus compromissos. Todos gostam de ser tratados como gente. Hoje, vemos uma enorme fila de pessoas que querem apenas ser acolhidas e ganhar como prêmio a possibilidade de serem escutadas. Quem acolhe está nivelando a pessoa, acreditando no terreno do seu potencial e no que ela pode produzir. Acolher é como tirar do mais íntimo da pessoa a confiança e a dignidade das riquezas que ela pode colocar a serviço de outrem. Ninguém é um fragmento. Somos a riqueza de uma construção que chamamos sociedade, família, grupo, paróquia, comunidade e outros.

Antes do dia amanhecer atualize seu acolhimento. As correrias e os ruídos do mundo parecem tirar a sintonia deste grande serviço. Com o passar do tempo o entulho vai ganhando força, o individualismo alcança espaços jamais vistos. Quantas vezes, o vem depois, agora estou ocupado, liga de novo, tenho viagem marcada, já me comprometi com outra pessoa, são fragmentos que solidificam nossas desculpas. Como nossa agenda está sempre repleta, onde fica o diálogo para a família, amigos e outros. Tem vezes que o acolhimento está na última página da ordem do dia, no ocasional, ou pior ainda, quando arrumamos um tempo. Quantas pessoas perdem o gosto de serem acolhidas, por não terem oportunidade de ganhar esta dádiva. O emocional vira um monte de areia. A pessoa se torna revoltada e vai aos poucos erigindo palavras como: ninguém me ouve, não presto nem para ser acolhido (a), parece que eu não existo. A ansiedade ganha espaço, a personalidade diminui, o caráter enfraquece, dando força à depressão. Um aperto de mão, um abraço, um beijo. Coisas tão simples, sociais, mas quando acontecem celebram o mais sagrado do ser humano, o que vale dizer o acolhimento. Pense nisso.

Cônego Manuel Quitério de Azevedo
Colunista do Portal Ecclesia.
Arquidiocese de Diamantina (MG). Bacharel e mestre em teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia de Assunção (SP); doutor em teologia pela Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma (Itália).

INDICAÇÃO: Ângela Pereira

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