domingo, 9 de junho de 2013

Senhora de 96 anos gasta os dias tricotando mantas para crianças de rua

Em meio a um mundaréu de gente preocupado com doenças na Santa Casa de Misericórdia, Alzira Freitas Peixoto, 96, é exceção. Não de todo, porque vez ou outra suas pernas doem. De costas para a estátua de um dos patronos do hospital, em Santa Cecília, região central, ela tricota.
No jardim, sentada numa cadeira de rodas devido à idade, ela faz crescer a manta colorida que enfeita seu colo. A quem se aproxima ela conta, com um sorriso orgulhoso, que os tricôs são para doação. "Dou para as crianças pobres. Elas sentem muito frio."

Peu Robles/Folhapress
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Alzira Freitas Peixoto, 96, tricota no jardim da Santa Casa, região central
A tarefa começa ali, nas manhãs em que o tempo ajuda, e continua em casa, que fica a algumas quadras do hospital, até a noite. "Lá trabalho mais, porque aqui toda hora é uma distração. Fico vendo as pombas, as pessoas que passam."
A cuidadora Nilza Freitas, 53, é testemunha de sua dedicação e sua vaidade. "Quando esqueço de colocar os brincos, ela logo reclama." Na sessão de fotos para a reportagem, distribuía tchauzinhos aos curiosos.
A costura final das peças é feita por sua filha, Alzira Cattony, 78, com quem mora. Também foi ela que lhe deu a ideia da boa ação, há três anos e meio. A mãe já estava cansada de fazer cachecóis, e era raro encontrar um conhecido que ainda não tivesse ganhado um exemplar. "Sugeri que a gente emendasse as tiras para fazer mantas e doá-las", conta a filha.
O terceiro elemento dessa microrrede solidária é a professora de ioga Maria Lúcia Corrêa, 56, que leva peças para a Federação Espírita do Estado de São Paulo e à Igreja Nossa Senhora do Bom Parto. "É gratificante para quem recebe e uma terapia para ela."
Apesar da boa memória na maior parte do tempo, dona Alzira não consegue se lembrar de quem a ensinou a fazer tricô. Durante muitos anos, foi professora de vitrinismo e empacotamento artístico do Senac, onde aposentou-se há cerca de três décadas.
Agora, quer aprender a fazer origami com a filha. Nilza, a cuidadora, diz não ter paciência para as dobraduras. A qualidade anda rara, ela admite, mas reconhece que dona Alzira ainda a tem de sobra.

TATIANA MENDONÇA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

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